Não mexa no iogurte dela. Ela tem uma técnica especial para enrodilhar a tampa, é estragar um dos melhores momentos de sua vida e desperdiçar a nata que se acumula no alumínio.
Já pode desenroscar à vontade sua garrafa da água. Ela não vê nenhuma arte nisso.
Não rasgue o pacote de bolacha. Ela deseja raspar os dentes no recheio da primeira bolacha, a mais crocante.
Já arrebente a linha pontilhada do salgadinho. Ela agradecerá o desperdício.
Não leia as dedicatórias dos livros dela, são cartões de amor disfarçados.
Já rompa o plástico da embalagem do CD, ela se revolta com o lacre.
Não coloque geleia ou manteiga em seu pão, existe um deslizamento da faca que aproveita a crosta dourada. Excesso de força talvez quebre a fatia e esfacele a obra-prima.
Já pode sacudir e servir o suco, é uma atitude carinhosa.
Não toque no saquinho de chá, cada um tem seu jeito de mergulhar o sachê e extrair a fragrância.
Já prepare o café, ela se sentirá aquecida pelo perfume.
Não perfure o vinagre e o azeite — o furinho de prego é herança de família.
Já tire a rolha do vinho e do champanhe.
Não invada o delicado pote de requeijão, é sacrificar o buquê de queijo.
Já pegue para si o frasco de pepino e de azeitona. Pressão é com você.
Não coloque de volta as roupas no cabide. Ela deve conservar uma ordem de importância das peças.
Já guarde os sapatos, não tem como estragá-los.
Não espie a cor do batom, ele grudará na tampa por sua imperícia.
Já aponte o lápis de olho.
Não ouse olhar o estojo do pó facial, o recipiente é frágil e não há como remediar depois.
Já desenrosque a cola bonder, eternamente com a ponta grudada.
Não estreie o xampu, significa o maior desrespeito à privacidade.
Já tire os sabonetes das embalagens e caixinhas, é de um cavalheirismo comovente.
Não esprema o tubo da pasta de dente.
Já pode manusear qualquer produto com spray.
Não lave as espátulas, tesourinhas e pinças do banheiro.
Já providencie a limpeza dos espetos do churrasco.
Gentileza não é se antecipar aos movimentos femininos e fazer tudo, mas saber o que fazer. Não é abrir tudo, mas saber o que abrir.
Ser educado sem perguntar é falta de educação.
Fabrício Carpinejar
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