Você sempre me encontra assim,
em noites eternas posto que impermanentes,
o único e absoluto tempo de viver.
Seu olhar é estradeiro, a saudade alada
e o coração, vagabundo.
Nem ouso perguntar
por onde tem andado,
você não diria.
Eu me desassossego,
queria ser ubíquo
em todos os seus atos
para não precisar
de tradução de seus gestos.
Sua versão é imperfeita,
menos vívida que legítima.
Há um abuso de entrelinhas,
frangalhos de memórias,
dejetos de enredos
que se extraviaram.
Suas frases,
atordoadas em lacunas,
contam do ruminante cotidiano.
Não sei se tomo
o valor nominal do que diz
como a real cotação das palavras.
Você me diz que está perdida.
Mas tantas vezes a gente se perdeu,
simplesmente porque tentamos
encontrar significado onde não havia.
Você insiste. Aponta para mim
como seu porto seguro,
mas diz que o mapa do retorno se consumiu,
a rosa dos rumos ensandecida.
Outros pretextos com que finjo concordar,
já que não me movo,
tenho estado aqui por eras.
Porém sei do seu apreço
pelo gosto de voltar
: sou todo familiaridade.
Fio de Teseu no labirinto.
Prendendo você justamente
por lhe dar toda a liberdade.
Fabrício Franco
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