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sexta-feira, 13 de abril de 2012

CICATRIZES


Unem-se à minha alma e à minha memória pedras e cicatrizes, estas as da minha história.
A dor real ou imaginária, as decepções, os sonhos que nunca realizei, os amigos que não vi  mais,  os meus mortos queridos, os amores perdidos que julguei serem meus.
E as cartas que nunca vieram? Mensagens não respondidas, ligações não atendidas, coisas pequenas e sentimentos grandes que roubei -  mesmo que em pensamento – as fotos que não tiramos juntos, os filmes que não assistimos.
Ah, os livros que não pudemos ler!
Tantas são as cicatrizes! Estão próximas umas das outras e se sobrepõem para formar uma casca horrível. A sensação é inquisidora, suspeita, não há meios para começar outra vez.
Talvez amanhã. Abandonam-me as esperanças.
É fácil dizermos que esquecemos tudo, mas quanto engano, ninguém se esquece de sua vida, e leva com ela toda a experiência  que pulsa no corpo, na mente, na alma.
Eu até posso sorrir para os momentos de felicidade que tive no passado, mas eles nunca mais irão se repetir. Tudo será diferente. O que me fez feliz uma vez perdeu-se no tempo e agora então a alegria será outra, com outra sensação, com sabores diferentes.
Eu sei. Se deixar as cicatrizes crescerem muito, elas me cobrirão o peito e, por vezes, não me deixarão respirar.
Porque elas me falam sobre o mundo perfeito que está além de mim, impalpável.
É preciso recomeçar. Deixar o perdão tocar o passado e as cicatrizes.
É bom ter um copo para beber, mas a água a escorrer entre as mãos é o que faz o meu paladar mais apurado.
E, sabe, até  acabo esquecendo as cicatrizes que brotam cristalinas no meu corpo.
Afinal, viver é mesmo cobrir-se de cicatrizes.

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