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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ACOLHIMENTO...



Eu gostaria que meu muro fosse de pedras cheias de musgos, mas não muito alto para que você pudesse avistar o jardim. O portão deve ser de madeira esmaltada, com flores na cimalha, despertando sua vontade de entrar. Ao fazê-lo, a porta antiga, tocaria a pequena sineta, que acordaria meu cão e despertaria sua admiração. Ao primeiro latido, você saberia que se tratava de um cachorro pequeno e que seu alarido era sinal de boas vindas.

Aí, você veria a casa pequena, com chaminé de verdade. Sempre haveria fumaça e cheirinho de café pairando no ar. Seu andar se tornaria mais lento, não para retardar a chegada mas para contemplar o caminho. Hortênsias e margaridas- para que mais?-atapetariam seus passos até chagar à varanda. Não olhe ainda os pássaros e nem repouse à sombra da árvore. Veja primeiro as duas cadeiras de balanço, entre elas, a velha mesinha, onde você deixa a pequena lembrança sempre que vem.

Agora o abraço. As muitas notícias dadas sem pressa e depois o silêncio nascido da intimidade. A água da bilha mataria a única sede que a saudade inventou. Aí sim, o café, com broa de fubá, cortada em quadrados e recheio de queijo. O céu estará sempre azul, mas sem ofuscar. Terá um tom discreto, sertanejo, com com uma nuvem acolá para você descobrir formas no infinito e tentar fazer com que eu veja também. Foi sempre assim.

Depois, o passeio até a vendinha, com o mesmo balcão encerado, com a mesma pintura sumida, na mesma rua estreita. Do lado de dentro, o eterno olhar de bondade que vendia fiado e oferecia uma bala, a bela bala perdida da infância que nos recusa o retorno. A noite esperada é amiga de sempre. As mesmas estrelas incansáveis ao olhar. A lua, atrasada qual uma noiva, trazendo a brisa que pede agasalho.

Agora, dormir...Talvez sonhar. A cama-patente rangendo de agrado com o repouso do amigo.O pequeno lampião de cabeceira, sempre o mesmo, agora com lâmpada, orgulhoso por ser moderno. Puxe o cobertor com cheiro de alfazema apenas até o peito, mas não durma ainda. Os amigos virão em seresta cantando "FLOR DO CÉU" e "AMO-TE MUITO" , como se fosse surpresa. Deixe que suas lágrimas aflorem antes do sorriso incontido  e do olhar despertado, que lhe mostrará o mundo emoldurado da janela.

Mas, basta por ora! Mergulhe simplesmente nesta paz e respire esse desejo de acolhida. Que ele te encontre sempre que os desencontros do mundo parecerem pesados demais para seus ombros cansados.

José Tarcísio Amorim

Professor de Psicologia Profunda na PUC-Minas e no Seminário da Arquidiocese

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