ENVIADO POR E-MAIL POR ROSANA MENNELLA
Um homem que se finge de burro é mais burro do que um burro honesto.
O que me dói é ver um pai casar de novo e esquecer o filho do primeiro casamento. Esquecer. Nenhum cartão de Natal ou presente debaixo da lareira.
É que ganhou um herdeiro do segundo casamento, está envolvido na escolha do enxoval, no anúncio do jornal, em fumar charuto com o sogro e com aquela vaidade suprema de ostentar para sua esposa que é experiente e sabe segurar a criança.
Ele apaga a casa anterior — com o que havia dentro dela — e se apega à casa recente. Entende que sua criança ou adolescente cresceu o suficiente para não depender mais dele. Nenhum filho cresce o suficiente para ser órfão de repente, não importa a idade.
Aquele filho a quem amava e criava com zelo, a quem aconselhava e trocava as fraldas passa a existir somente como uma pensão, uma linha do seu contracheque. Não pergunta. Não telefona. Não se encontra fora de hora. Está muito ocupado criando um bebê. O que dá para entender é que ele não ama o filho, mas a mulher com quem se encontra no momento. Faz qualquer coisa para agradá-la, inclusive negar a paternidade do primeiro casamento.
É do tipo ou tudo ou nada, ligado à figura masculina patriarcal, que oferece e tira conforme suas vantagens. Não é bem um pai, mas um latifundiário emocional, desconfiado, sob permanente ameaça de invasão de suas terras.
Mãe é diferente, sempre se elogia quando menciona seu filho. Mareja os olhos ao mexer na gaveta das camisas, coleciona bilhetes e desenhos, inventa uma porção de neologismos no abraço. Não se guarda para depois, para um melhor momento, está disposta a conversar pressentimentos e costurar recordações.
Pai costuma se omitir no momento do desabafo. É comedido demais para estar vivo. Troca de personalidade, de residência, de amor, o que precisar, no sentido de prevenir a sobrecarga de problemas. Para namorar, ele some por meses (exatamente o contrário da mãe, que administra o final de semana com o apoio da babá e da avó). Homem ainda não conseguiu conciliar sua vida profissional com a afetiva. Não é capaz de unir nem a vida afetiva pregressa com a vida afetiva atual. Cuida de um afeto por vez.
Pai não forma sindicato, não cria associação. Continua defendendo que ninguém tem o direito de se meter na vida dele e converte em inimigos os amigos que insinuam sua indisposição filial.
Ele se separou de uma mulher, não do seu filho, mas culpa o filho porque não consegue completar uma frase com a ex. Parte do princípio de que ajudando o filho está ajudando a ex. Gostaria de matá-la, mas então se mata para o filho.
Ou entende que seu filho deve procurá-lo, cria paranoias e neuroses para aliviar sua culpa. Age como um ressentido, fala mal do filho do primeiro casamento para a mulher do segundo casamento, alegando ingratidão. E a mulher do segundo casamento concorda com o absurdo porque está preocupada com o nenê e deseja a exclusividade do marido. E não entende que um irmão depende do outro irmão, que uma família não cresce por empréstimos.
Homem tem que aprender a sofrer em público, sofrer por um filho o que sofre por uma dor de cotovelo, apanhar das cólicas e da coriza, desabar numa mesa de bar, beber interurbanos, fechar a rua e o sobrenome para encurtar distâncias, chorar nas apresentações escolares, fingir abandono a cada despedida, para só assim mostrar que pai, pai mesmo, nunca será dispensável.
RESPOSTA AO E-MAIL
Rosana:
Um homem que se finge de burro é mais burro do que um burro honesto.
O que me dói é ver um pai casar de novo e esquecer o filho do primeiro casamento. Esquecer. Nenhum cartão de Natal ou presente debaixo da lareira.
É que ganhou um herdeiro do segundo casamento, está envolvido na escolha do enxoval, no anúncio do jornal, em fumar charuto com o sogro e com aquela vaidade suprema de ostentar para sua esposa que é experiente e sabe segurar a criança.
Ele apaga a casa anterior — com o que havia dentro dela — e se apega à casa recente. Entende que sua criança ou adolescente cresceu o suficiente para não depender mais dele. Nenhum filho cresce o suficiente para ser órfão de repente, não importa a idade.
Aquele filho a quem amava e criava com zelo, a quem aconselhava e trocava as fraldas passa a existir somente como uma pensão, uma linha do seu contracheque. Não pergunta. Não telefona. Não se encontra fora de hora. Está muito ocupado criando um bebê. O que dá para entender é que ele não ama o filho, mas a mulher com quem se encontra no momento. Faz qualquer coisa para agradá-la, inclusive negar a paternidade do primeiro casamento.
É do tipo ou tudo ou nada, ligado à figura masculina patriarcal, que oferece e tira conforme suas vantagens. Não é bem um pai, mas um latifundiário emocional, desconfiado, sob permanente ameaça de invasão de suas terras.
Mãe é diferente, sempre se elogia quando menciona seu filho. Mareja os olhos ao mexer na gaveta das camisas, coleciona bilhetes e desenhos, inventa uma porção de neologismos no abraço. Não se guarda para depois, para um melhor momento, está disposta a conversar pressentimentos e costurar recordações.
Pai costuma se omitir no momento do desabafo. É comedido demais para estar vivo. Troca de personalidade, de residência, de amor, o que precisar, no sentido de prevenir a sobrecarga de problemas. Para namorar, ele some por meses (exatamente o contrário da mãe, que administra o final de semana com o apoio da babá e da avó). Homem ainda não conseguiu conciliar sua vida profissional com a afetiva. Não é capaz de unir nem a vida afetiva pregressa com a vida afetiva atual. Cuida de um afeto por vez.
Pai não forma sindicato, não cria associação. Continua defendendo que ninguém tem o direito de se meter na vida dele e converte em inimigos os amigos que insinuam sua indisposição filial.
Ele se separou de uma mulher, não do seu filho, mas culpa o filho porque não consegue completar uma frase com a ex. Parte do princípio de que ajudando o filho está ajudando a ex. Gostaria de matá-la, mas então se mata para o filho.
Ou entende que seu filho deve procurá-lo, cria paranoias e neuroses para aliviar sua culpa. Age como um ressentido, fala mal do filho do primeiro casamento para a mulher do segundo casamento, alegando ingratidão. E a mulher do segundo casamento concorda com o absurdo porque está preocupada com o nenê e deseja a exclusividade do marido. E não entende que um irmão depende do outro irmão, que uma família não cresce por empréstimos.
Homem tem que aprender a sofrer em público, sofrer por um filho o que sofre por uma dor de cotovelo, apanhar das cólicas e da coriza, desabar numa mesa de bar, beber interurbanos, fechar a rua e o sobrenome para encurtar distâncias, chorar nas apresentações escolares, fingir abandono a cada despedida, para só assim mostrar que pai, pai mesmo, nunca será dispensável.
RESPOSTA AO E-MAIL
Rosana:
Fico feliz que este texto não se encaixe na minha situação e espero com fé em Deus e no marido que tenho ao meu lado que nunca faça. Contudo, é certo que conheço muitas mulheres, amigas ou não que passam por isso. Também fico intrigada quando vejo que o tal é "EXEMPLO DE BOM PAI", até aparecer uma "xota nova na parada" Parece-me que esta pequena parte da mulher faz cegar, ensurdecer e até mesmo causar um tipo de lesão cerebral e emocional que não permite que o homem cumpra o seu papel de
PAI, QUE QUERIAM OU NÃO É TÃO IMPORTANTE QUANTO O DA MÃE.
Na verdade eu penso que nada mudou. Os homens continuam fazendo o que querem, quando querem e as mulheres aceitam isso como uma coisa normal. Vejo no dia a dia mães que criam seus filhos homens exatamente para agirem desta forma. Frases do tipo: prendam as cabras que o meu bode ta solto, homem não chora, meu filho é pegador, garanhão, etc, etc, etc... fazem nada mais nada menos do que reforçar esse padrão machista que norteia a sociedade. Acredite, ouço essas coisas mais vezes do que gostaria. Ou que criam filhas dizendo: homem é assim mesmo, uma transa não significa nada, contanto que não deixe faltar nada em casa. Mulheres que aceitam a infidelidade. Que aceitam ser amantes, reforçam este tipo de conduta.
Brinquedos de meninas: panelinhas, vassouras, bonecas, bebê, miniaturas de bonecas fúteis, etc. Para os meninos: carrinhos, bolas, armas, jogos de mil e um tipos, etc. Meninas não brincam de nada. Aprendem desde cedo a cuidar da casa e dos filhos ou então a ficarem bonitas para receberem seu homens.
Lamento que estejamos longe de atingir uma sociedade na qual cada um cumpra o seu papel. Não sou feminista, nem quero ter os mesmos direitos nem deveres que os homens. Acho mesmo que somos diferentes no modo de pensar e agir. Entretanto, gostaria de ver menos crianças abandonadas por seus pais, de ver menos mulheres massacradas fazendo papel duplo e ainda arranjando desculpas para a falta de caráter do ex marido que também acha que é ex pai.
Vejo mulheres inconformadas por terem perdido o marido buscando sem o menor critério um outro que preencha o espaço deixado, se é que isso é possível. Outras ainda ficam enclausuradas, assexuadas, esquecem que existe vida após um casamento que acabou.
Um ex marido nunca deveria ser um ex pai e é triste saber que novamente estará nas mãos das mulheres mudar esse tipo de comportamento.Sejamos um pouco mais difíceis. e menos tolerantes.
Desculpe ter me alongado no assunto e também por me expressar de forma vulgar em algum momento do texto. Mais do que um assunto que me chateia o texto é sem dúvida muito bem escrito e gosto demais de ler essas reflexões.
beijos, mande mais textos e saiba que este está lá no Armadilhas do Tempo. AGRADEÇO!!!
MÁRCIA TOITO GARCIA!
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