O que é a insônia?
A pergunta é retórica; conheço muito bem a resposta.
É temer e contar na alta noite as duras badaladas fatais, é ensaiar com inútil magia uma respiração regular, é o peso de um corpo que bruscamente muda de lado, é apertar as pálpebras, é um estado parecido com a febre e que certamente não é vigília, é pronunciar fragmentos de parágrafos lidos há muitos anos, é saber-se culpado de velar enquanto os outros dormem, é querer mergulhar no sono e não conseguir mergulhar no sono, é o horror de ser e continuar sendo, é a duvidosa aurora.
O que é a longevidade?
É o horror de existir em um corpo humano cujas faculdades declinam, é uma insônia que se mede por décadas e não com ponteiros de aço, é o peso de mares e pirâmides, de antigas bibliotecas e dinastias, das auroras que Adão contemplou, é não ignorar que estou condenado a minha carne, a minha detestada voz, a meu nome, a uma rotina de lembranças, ao castelhano, que não sei manejar, à nostalgia do latim, que não sei, a querer mergulhar na morte e não poder mergulhar na morte, a ser e continuar sendo.
Jorge Luis Borges
Tradução: Josely Vianna Baptista
A pergunta é retórica; conheço muito bem a resposta.
É temer e contar na alta noite as duras badaladas fatais, é ensaiar com inútil magia uma respiração regular, é o peso de um corpo que bruscamente muda de lado, é apertar as pálpebras, é um estado parecido com a febre e que certamente não é vigília, é pronunciar fragmentos de parágrafos lidos há muitos anos, é saber-se culpado de velar enquanto os outros dormem, é querer mergulhar no sono e não conseguir mergulhar no sono, é o horror de ser e continuar sendo, é a duvidosa aurora.
O que é a longevidade?
É o horror de existir em um corpo humano cujas faculdades declinam, é uma insônia que se mede por décadas e não com ponteiros de aço, é o peso de mares e pirâmides, de antigas bibliotecas e dinastias, das auroras que Adão contemplou, é não ignorar que estou condenado a minha carne, a minha detestada voz, a meu nome, a uma rotina de lembranças, ao castelhano, que não sei manejar, à nostalgia do latim, que não sei, a querer mergulhar na morte e não poder mergulhar na morte, a ser e continuar sendo.
Jorge Luis Borges
Tradução: Josely Vianna Baptista
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