O momento em que se espera por algo é a eternidade enfeitada por pequenos atos de tortura. Sinto-me sempre sendo cutucado por ferro quente, sendo chicoteado em toras antes usadas em surras da época da escravatura. Aliás, é bem o que sou, um escravo do tempo. Dedico a ele - e a todos - tempo demais, recesso demais no tempo que eu deveria ter comigo. Meu egoísmo nunca é suficiente para suprir as falhas que tenho em querer seguir o tempo ou fazer com que o tempo me siga, ou quem sabe iludir o tempo o diminuindo ou o invertendo.
Em cada lacuna que fica aberta, vejo que poderia ter sido mais de mim sem me preocupar com nada. Ser-me de corpo, alma, sexo e futilidades. Intelectulância cansa se não for bem usada, se repetitiva, ignóbil - só serve se for para o bem. O bem que é medido ironicamente em tempo. Quanto tempo você se dedicou à família, ao trabalho, às regalias de seus conhecidos em detrimento do que é importante para você, sem que você escolha o que queira realmente fazer. O tempo é relativizado por quem nos cerca: sempre muito para lá, pouco para cá e o meio que se ferre, sem tempo para ele.
Isso não é uma busca por exorcizar-me do tempo que emprego desmedidamente à coisas pouco importantes. É só uma tentativa vã de me incutir o seguinte: o tempo é falho, rasteiro demais e se eu me apegar aos detalhes que ele exerce em mim, em nós, perderei mais tempo dum tempo que eu não sei se tenho. Em suma, quero esquecer o relógio, jogar fora o calendário, desativar os alarmes e viver. Irresponsabilidade? Muita, mas há espaço para todos nós nesse mundo. Existem os certinhos, os errados, os tortos, os calados, faladores, quietos e existe a mim, que sou vago, cheio, lascivo e irresponsável.
Perdoem-me, mas é o meu tempo, dele utilizo e o moldo da forma que me aprouver. Façam o mesmo.
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