por Márcia Toito
Aguardava na sala de espera a presença de uma pessoa para que pudesse conversar a respeito de um assunto delicado. Precisava explicitar algumas opiniões, tentar entender o porquê de alguns acontecimentos. Sabia que não encontraria respostas, entretanto a conversa era necessária para que fossem satisfeitas algumas vontades do ego.
Andava de um lado para o outro, assim como fazem todos aqueles que são dotados de uma insatisfação quase que genética pela espera. Observava o ambiente. Organizado, mas não via ali nada que pudesse representar algo de pessoal. Nada que pudesse demonstrar um carinho especial ao cuidado na disposição dos móveis e objetos. O ambiente era cuidadosamente profissional fazendo com que sua ansiedade aumentasse.
Tinha o costume de observar. Fazia para evitar que o tempo denunciasse seu desagrado pela espera.
Sentou-se, atendendo à sugestão da funcionária que prontamente fora chamar a tal pessoa a quem deveria direcionar suas dúvidas.
Um banco de ferro com almofadas amarelas foi o escolhido entre os poucos que não pareciam confortáveis. Ao lado, uma linda folhagem, muito verde com tons mais claros nas pontas. Algumas flores coloridas destacando-se em meio à predominância das folhas. Por instantes admirou-se da beleza e logo pensou: Seria natural? Ficou admirando e de perto foi conferir assim como fazem todos aqueles que pretendem confirmar seu encantamento.
Nunca gostou de dispensar qualquer tipo de atenção ao que não fosse natural.Gostava do que via e queria que fosse natural. Seria como uma salvação para o ambiente que lhe causava tanto desagrado.
O encantamento se foi ao constatar que a harmonia daquele ambiente estava de fato baseada na artificialidade.
Conformou-se quando percebeu que, de certa forma, tudo estava combinando, ainda que não fosse do seu agrado.
Olhar parado e distante, começou a refletir acerca da sua própria interrogação. “Seria natural?” Em seguida pergunta-se novamente: Por que algo admirável e belo é sempre passível de dúvidas? Por que o artificial parece ser mais belo e mais brilhante do que o natural?
Respondia interiormente sem muita convicção: Talvez porque o artificial de uma ideia de permanência ou eternidade. Talvez porque pareça mais resistente, mais colorido e muito mais fácil de cuidar. É imune às pragas, aos ventos e às chuvas. Não é vivo e por isso não traz a desfavorável ideia de morte. Esta última conclusão foi a mais convincente de todas. Contudo sua preferência pelo natural ainda permanecia inabalável, por saber que mesmo depois da morte, é possível colher e plantar as sementes. Esta era a verdadeira idéia de eternidade, beleza, permanência, resistência, brilho e cor em que acreditava. Passível do mau tempo? Sim ! Mas...Viva !
Márcia Toito
em 08/05/2007
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