Os pingos na testa são coisa para me pôr a pensar. As férias, poderiam ser tempo de descanso, mas é nelas que me atafulho de picos medonhos, que se me cravam dentro, como se no resto do ano, entre passos rápidos e olhares fugidios, a consciência se deixasse sumir, ou pelo menos entorpecer, mantendo-se assim na distância, mais do que suficiente para que a vida me corra, umas vezes menos, outras vezes mais. Nem percebo o porquê da ilusão. Deveria eu já ter feito o caminho correcto para lidar com gente, já conhecer os meandros por onde se movem, já lhes encontrar manchas negras que besuntam de cores amenas, sem nunca negar a essência. Mas não. Temo que nunca me venha tal lucidez. Temo que os caminhos que percorro me deixem sempre no aquém que preciso, porque sempre acabo por roçar a injustiça que me alcança, malvada coisa que parece espreitar-me ao longe, quando sossego. Deveria eu nem ambiciona-lo, deveria eu manter-me de guarda a mim, quase como se numa constante luta me encontrasse, e carecesse de um arbusto gigantesco, capaz de me amparar, sempre e em qualquer lugar. Quando arrisco larga-lo, algo me surge. Nem sei de onde vem ou de onde me fere, ou sequer o porquê. Ou talvez saiba sem querer ver, num embalo onde me entrego toda, como em todas as entregas. Um dia cresço e nesse dia chegarei para mim. Não que deixe de me dar, de me entregar, ou sequer de amar. Simplesmente, deixarei de me iludir. Dizem que dela também se vive. Eu, quanto mais a encontro, mais a desdenho.
CF
UMA MULHER NÃO CHORA
CF
UMA MULHER NÃO CHORA
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