É triste aquele abraço que a parte de dentro do cotovelo não encosta no corpo da outra pessoa. É triste não sentir a parte de dentro do cotovelo do outro encostar no seu tronco. Abraço rápido, chegada ou despedida, mas abraço rápido, sem tempo de respirar junto.
É triste aquele beijo que termina antes do comercial, que te dá tempo de saber as promoções dos supermercados mais famosos e descobrir que saiu um novo modelo de celular, é triste não beijar enquanto não volta o filme pra perder um minuto precioso vendo televisão.
É triste o caminho de volta pra casa tomando atalhos, sem aquela volta ao redor do parque, da cidade, do mundo, só pra olhar para as pessoas e para as vitrines das lojas de móveis e pensar que um dia vamos casar e ter todas aquelas coisas bonitas. É tão triste chegar em casa em cinco minutos.
É triste segurar os cabelos e não deixar o vento bagunçar, e não dar risada porque tem que se segurar um no outro. Tão triste achar que isso é só preocupante e perigoso. Tão triste fugir do vento como quem foge da lava de um vulcão.
É triste lembrar de datas importantes mas não fazer nada que seja importante pra garantir um sorriso a mais. E perder tempo subindo na cadeira e não descobrir com as mãos se o cachorro morde mesmo ou não.
Fugir da lama gelada e alegre porque a palavra lama causa desconforto e lembra sofrimento. É triste evitar momentos divertidos pelo medo que isso seja afundar-se nos diferentes significados de cada palavra.
É tão triste sair correndo de uma chuva de verão como se ela fosse tirar a maquiagem e mostrar quem realmente somos por trás de tudo aquilo pintado.
Gente cinza tem medo de chuva, gente colorida de alma, não.
CAMILA HELOÍSE
LÁ DO A SOMBRA DO MAR
Nenhum comentário:
Postar um comentário