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terça-feira, 31 de maio de 2011

Os versos de Sylvia Plath no banco da praça…


Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
Os meus passos lentos sobre calçadas irregulares sempre me levam a diversos lugares. Os mais curiosos… As vezes, simplesmente desapareço junto a paisagem real dos homens e me vejo caminhando trilhas acerca de minhas próprias ilusões…
Gosto de acompanhar os últimos minutos da madrugada. Mãos no bolso, passos tranquilos e apenas sombras a frente do olhar. Os postes respingam luzes junto as folhas, no alto, amarelecidos tons escorrem até o chão. Eu aprecio a solidão urbana dos portões, quintais e janelas fechadas. Algumas luzes acesas avisam que há humanos entregues as suas fantasias noturnas ainda e o meu passo segue até a praça onde sombras de árvores, de pedras, bancos se arrastram ao longo dos breves contornos.
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Um banco me chama e ali me aconchego. Para minha surpresa, um caderno me espera. Em sua capa uma escrita fina diz aos meus olhos “mar de sargasso” e o sorriso se aproxima dos lábios. Olho para todos os lados, como se fizesse algo de errado, é preciso certificar-me que ninguém observa meus atos. Ninguém por testemunha, lanço-me naquela investigação intima e absoluta. Sou uma intrusa…
Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para
a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
As páginas revelam-me de imediato um lugar privilegiado onde estão registradas algumas ideias para poemas. Percebo imediatamente uma ânsia de perfeição, um desejo urgente intenso em relação à poesia que vale a pena ao contrário da vida que se mostra angustiante, cansativa, asfixiante…
Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo
do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Páginas inteiras escritas a punho mostram a fragilidade dessa mulher de caráter obsessivo. Tudo ali é ciúme, paixão pela escrita e por Ted Hughes. É também dificuldade em lidar com sua mãe por quem nutria uma profunda antipatia. É também desgosto sentido pela morte do pai logo aos oito anos. É esgotamento e principalmente é uma busca constante e incansável pela perfeição…
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
As narrativas que encontro me levam a acreditar que aquela mulher de trinta anos, inteligente, bela e capaz de escrever com tanta paixão, esgotou-se em determinado momento. O suicídio em pleno inverno londrino, num apartamento gélido, indiferente a sua existência parece ser uma resposta para o desespero insuportável tantas vezes narrado em suas poesias.
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com
estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Ela estava sozinha, muito embora, ali ao lado, no quarto, seus dois filhos pequenos dormiam sem compreender que o silêncio da noite levaria para sempre aquela alma sem fazer um só ruído que fosse.
Sylvia nasceu em 1932 em Boston, Massachusetts. Em 1955 terminou os seus estudos no Smith College ( “summa cum laude” ) e foi para Inglaterra continuar a sua educação. No dia 03 de Março de 1956, a jovem Sylvia conhece um “poeta brilhante” – “o único homem suficientemente forte para estar a (sua) altura”. Foi para ele que ela escreveu o seu melhor poema, chamado Pursuit, que fala de uma pantera que a persegue até à morte e a quem ela lança o seu próprio coração para a apaziguar. Parece uma premonição dos dias que sucederam a união entre eles. Se houve dias de tranquilidade, é tudo quase invisível diante do terremoto que nos alcança até os dias atuais.
Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto
Do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
O dia chega no distante horizonte urbano. Fecho o diário, devolvendo-o ao seu lugar, não sem antes correr os olhos em todas as direções para certificar-me que as ilusões desta manhã silenciosa não foram testemunhadas por mais ninguém. Levanto vôo de volta a realidade, mas não se antes espiar o banco no meio da praça e sua solidão. Se há um livro esquecido ali ou não é uma pergunta que me recuso a responder, afinal, a ilusão precisa de argumentos e eu também
Lunna Guedes
FONTE:  AQUI
BLOG DA AUTORA: MENINA DO SÓTÃO
Nota. 
Poema nesse post.
Canção de Amor da jovem louca – Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Trecho final de Palavras (words) de Sylvia Plath

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