Então o problema é só esse: uma vontade de chorar até que passe. Aí que vão me perguntar “passar o quê?” e eu vou responder que nada. Uma, duas, três vezes. Até que vou me cansar de tanto dizer que nada e ninguém enxergar que tudo e vou acabar por ficar quieta e deixar que a vontade de chorar não fique mais tão na vontade e vou deixar o travesseiro úmido e a alma leve. E quando me virem com água nos olhos, inventarei uma desculpa qualquer, é certo. Eu sempre fujo das verdades e me sinto uma completa covarde por ficar levando a vida desse jeito cômodo. Cômodo pra quem? Pra vida, meu caro, não pra mim. Ou talvez até seja um tantinho cômodo pra mim, vá lá. Sem hipocrisias, certo? O problema é que tudo se acumula de um jeito torto e claustrofóbico aqui do lado de dentro e quando não dá mais pra suportar, estouro. E falo e conto e peço e tudo parece só um disco arranhado, repetitivo que – não pela primeira vez – está dizendo tudo de novo, apertando na mesma tecla, se anulando um pouco, implorando nas entrelinhas e vendo a vida passar e continuar.
Maria Fernanda Probst (Palavras e Silêncio)
Maria Fernanda Probst (Palavras e Silêncio)
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