Cometi o deslize de falar sobre você e constatei, um tanto descontente, que tudo aquilo de carinho que alimentava continua ali, firme e forte e intocável. Deveria ter alguma forma, surreal e impensada, de tornar as coisas um pouco menos distantes, mas depois de todas aquelas mil vezes que você me dizia para agir mais e pensar menos, para vestir-me de atitudes e fazer aquilo que tinha vontade, sem me preocupar com o que acham ou deixam de achar, eu voltei a ser a mesma de sempre. Pensando e só. Cogitando e só. Preocupando – à toa – e só. Nada mais. Nem um milimetrozinho diferente. Se sinto saudades de como eu era? Claro! Claro que sinto. Mas, não sei, acho que tu tinhas razão quando falava do meu comodismo, de entrar numa zona de conforto e ali ficar, até que o marasmo tome conta e eu sacuda tudo e jogue tudo pro alto, tudo pra fora e recomece outra vida, n’outro canto, n’outras cores, anyway. O fato é que ainda tenho um bom bocado de carinho e queria que tu soubesses de. E pensei – que bom seria! – se existiria um mínimo de possibilidade de haver uma amizade culta, recheada de indicações de filmes, livros e músicas. Algo que sacudisse a rotina, que fosse diferente daquilo que vem sendo todo dia. Algo de incerteza... Sei lá.
MARIA FERNANDA PROBST
PALAVRAS E SILÊNCIO
MARIA FERNANDA PROBST
PALAVRAS E SILÊNCIO
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