BY MARIA JOSE CARMONA
Nunca fiz o mal deliberadamente, e como toda herdeira judaico-cristã trago em mim a grande culpa; porém devo confessar que quero minha felicidade. E querer minha felicidade demanda, não tem jeito, a infelicidade de alguém. Porém, não penso nisso, não penso na infelicidade de alguém que, com a minha felicidade, estará completamente infeliz. Verdade que penso sim, e chego a ficar alegrinha em imaginar a tal infelicidade daquela uma. Portanto, sou um ser humano. Mas o que ganho com a felicidade, que sei, não virá? Sei mesmo, de há muito, que essa coisa não existe não, meu filho, não existe, concordo. E não vou nem começar aqui com aquela história besta e clichê dos momentos felizes. Você sabe que nunca consegui ter um momento completamente feliz? Em todo momento alegre meu, uma formiga me morde. Também aquela tal serenidade não acredito, pois que estou sempre, por puro hábito, em total desespero. Ah, sintonizar pensamentos positivos? Ah, ah, ah. Como? Sou uma antena do infalível medo, ou seja, do que chamam, fatalmente, de negativo. Já viu, né? Não há acerto por aqui, não há. Mas, estúpida, continuo querendo a abestalhada felicidade. Durmo e acordo para isso, me alimento e tomo banho para isso, vivo para isso. Mesmo sabendo ser tudo falácia, engano, simulação, arremedo, fantasia vestida de meus antepassados que, mesmo mortos, continuam na ativa. Só pode ser, de verdade, essa vivência repetida, condicionamento de ideias no plano astral e no cotidiano. Ah, a felicidade é esse sonho apenas, essa vontade de dormir, dormir sem sustos. Talvez por isso é que morremos.
AERONAUTA
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