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sábado, 21 de julho de 2012

SOBRE O AMOR VERDADEIRO


"Qual a razão para que determinada pessoa continue com ele (ou ela)? Quantas vezes colocamos estas e outras questões aos nossos amigos envolvidos em histórias de amor dolorosas ? Quantas vezes nos questionamos sobre a razão que leva determinadas pessoas a manter relações insatisfeitas? É certo que não é isso o amor. O que é então ? Um sentimento que nos torna radicalmente felizes ?

Certamente que não... O amor verdadeiro nada tem a ver comserenidade Mesmo depois da fusão inicial e contrariamente ao que podemos imaginar, o amor não é confortável, ele muda, treme, e isso liga-nos ao outro numa aventura que ultrapassa a racionalidade. 


O amor é um mistério para quem o vive, e um mistério para aqueles que o observam. Na verdade, aquilo que nos liga ao outro é inexplicável. Amar verdadeiramente, é ir em direção ao outro, não apenas pela sua imagem (a sua beleza, a sua semelhança com este ou aquele), nem por aquilo que simboliza (um pai, uma mãe, o poder, o dinheiro), mas pelo seu segredo ou mistério. Segredo esse que não sabemos nomear, e que vai ao reencontro do nosso: uma falta sentida depois da infância, um sofrimento estranho, indefinível. amor dirige-se ao nosso lado irracional.


Há um vazio em nós que pode causar a nossa destruição, matar. E o amor é o encontro de duas feridas, de duas famílias, a partilha com alguém daquilo que nos falta radicalmente e que jamais poderemos dizer. O amor verdadeiro não é : « mostra-me o que és » ou « dá-me o que tens para completar o que me falta », mas antes : « eu amo a forma como te tentas curar, eu gosto da tua cicatriz ».
Nada em comum com a hipótese da « metade da laranja » que nos afirma incompletos porque cortados em dois, em que o amor nos tornaria um só e felizes.  Essa é a causa do falhanço de muitos casais.


Quando alguns se apercebem que continuam a sentir-se insatisfeitos, imaginam que ainda não encontraram o homem ou mulher que lhes falta e que devem mudar. Não é, evidentemente, o caso. Amar verdadeiramente é dizer ao outro : « Tu interessas-me »


Amar, é ter medo. Todo o tempo. Freud, explica da seguinte forma : tornamo-nos dependentes porque precisamos que o outro nos devolva, diariamente, a existência. Daí o medo de o perder. O amor implica correr riscos. Ele suscita um fenomeno de vertigem, por vezes mesmo de rejeição: podemos deixar de amar porque temos medo, sabotar tudo em vez de nos entregarmos e de confiar totalmente, reduzir a importância desse amor ligando-nos a uma atividade onde tudo depende de nós. Tudo isso como forma de nos protegermos do poder exorbitante do outro sobre nós. Ou desse amor em nós.


É por isso, sublinha Freud, que Éros e Tânatos estão ligados. “Eu amo-te e destruo-te”. Eros, corresponde ao desejo de nos ligarmos amorosamente uns aos outros; Tânatos é a pulsão da morte que nos empurra a romper a ligação para que o nosso ser se mantenha poderoso. O amor empurra a sair de nós próprios, o eu do combate. Sabemos que quando amamos, algo nos sufoca.


O amor afeta o nosso ser, o nosso lugar no mundo. Poucas pessoas se dão conta disso. Encontram-se sós, e sentem-se bem nessa solidão, porque estão protegidos da pulsão da morte. Mas o amor não é um contrato de afetos: é um sentimento violento que representa perigo para ambos os lados. Um perigo que, para muitos, continua a valer a pena correr..."

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