O pássaro é denso mas crispado e tem angústias, medos. Aprendeu a sabedoria de pôr-se a jusante das alamedas e do turvo chão, testemunha das planuras, pouquidões humanas.
Há pássaros óbvios. Outros habitam o peito dos mares e aí parecem-se a peixes e a algas que erram. Os pássaros não deixam tocar-se porque são nus e anunciadores. Raro desfazerem-se das sedas de que são articulados: ponto a ponto. Os pássaros são orgíacos, substantivos, a despeito de seu desarvoramento.
Pássaros são feitos de gritos monossilábicos e pulsam pautados: cascos partindo-se no ar. São o silêncio das claras de ovo, o modo de ser da marcha resolvida dos alados.
Os pássaros expõem-se denodados mas de perfil. Irrompem nas desferidas asas ou as colam ao corpo — depositário das deliberações que exacerbam os arcos, que se dão sempre e quebram-se.
Haroldo Maranhão
FONTE: O PRIVILÉGIO DOS CAMINHOS
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