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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

COISAS DA PAIXÃO E DO AMOR...


Quando alguém nos mostra que já não está apaixonado por nós, existe uma sensação de desconforto na qual não somos senhores.
O olhar perde-se. Os lábios ficam entreabertos e tudo o que dizemos torna-se pensado numa vontade de indiferença fingida, num “pacote” de palavras cuidadosamente alinhadas que não combina com o falar da expressão dos nossos movimentos, do nosso olhar, inclusive do nosso timbre de voz que entra ao ataque mas em defesa dessa tal indiferença, que nos olha de frente e diz “eu ainda gosto de ti, e não sei o que fazer em relação a isso, não sei como te mostrar que mesmo gostando de ti não vou dizer-te que gosto, não vou dizer-te que o adeus da tua paixão me tira o tapete debaixo dos pés e me deixa à deriva…”
Quando alguém pronuncia a frase “já não sinto por ti o que sentia, já não te olho da mesma forma”, algo se perde e nunca volta a recuperar-se. “Podemos tentar ser amigos” sim podemos, podemos continuar a encontrar-nos em momentos de circunstância, talvez tomar um café, ir ao cinema, ver um concerto, telefonar e perguntar como vão as coisas, mas não podemos mudar a rotação do planeta, não podemos apenas trocar todos os instantes, em que falávamos apenas com o que sentíamos estando tudo à volta num plano inferior e sem qualquer interesse, por um mundo real em que duas pessoas já não se sentem uma à outra de igual forma.
Duas pessoas que se entregaram uma à outra, que se mostraram sem máscaras e de coração nu, não vestem uma pele nova de amigos de um dia para o outro, existe um caminho longo e tortuoso repleto de mal entendidos, de palavras que ficaram por dizer, de situações mal resolvidas, de feridas que ficaram abertas, de abraços que ficaram a meio.
Quando uma dessas pessoas sente que o “fato” de apaixonado já não lhe serve ou que começa a ficar gasto, a outra dificilmente encara isso sem ser com um semblante carregado e triste, onde uma lágrima grita por liberdade, mas uma qualquer voz interior lhe diz “não dês parte fraca agora, agüenta, tens de te fazer forte, tens de ter a cabeça fria” e essa lágrima é agrilhoada em prol de algo que por vezes pode ser comparado ao orgulho. Dificilmente duas pessoas se desapaixonam ao mesmo tempo, é um fenômeno que apenas se deve repetir de mil em mil anos, numa qualquer conjunção astral duvidosa que provoca neve em agosto e ondas de calor em dezembro.
A amizade ou o afastamento são as duas novas alternativas, mas se pensarmos bem sobre elas, uma não se processa sem a outra. Não existe amizade sem afastamento, não existe amizade sem que afastemos de nós um conjunto de histórias e momentos, não existe amizade sem o afastamento de gestos diários de carinho especial, de um reformular de olhares, de uma mudança de atitude. A amizade não tolera a compreensão de uma paixão, de um amor, simplesmente coloco sérias dúvidas que ela se mantenha, que ela se desenvolva, não. Assume outros contornos, isso sim. Se alguém diz que ainda entende da mesma forma enquanto amigo, do que enquanto alguém apaixonado ou alguém que ama, está a mentir a outra pessoa, e o mais grave é estar a mentir a ela própria. Se não está é porque continua apaixonada ou a amar essa pessoa. Para ser amigo depois de uma paixão ou de um amor, das quatro uma: ou existe nova paixão ou novo amor, ou então essa paixão ou amor não foi nada mais do que uma febre ou ligeiro “mal/bem-estar” que passou depressa, ou a amizade sempre foi superior à paixão ou ao amor, ou o masoquismo é uma forma de estar na vida...

LUIS COUTINHO

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